Para saber como é trabalhar em Londres, em Inglaterra, falámos com Filipa Rolo, portuguesa de 31 anos e, actualmente, a trabalhar na capital inglesa. Com mestrado em Mestrado em Design e Cultura Visual, Filipa trabalha como Senior Product / UX & UI Designer na Radley Yeldar e conta-nos a sua experiência na capital inglesa.
Como é trabalhar em Londres por Filipa Rolo
- Como acabou a trabalhar em Londes? Decidi sair do país à procura de desenvolver a carreira.
- Como avalia a sua experiência: Brilhante!
- Aspectos mais positivos quanto à forma como o trabalho é vivido: A ética de trabalho é totalmente diferente, há muito respeito não só pelo trabalho, mas acima de tudo pelos colaboradores e equipas. Não há espaço para faltas de respeito em parte alguma seja por alguém mais senior ou mais junior. O salário e a progressão de carreira diferem muito de Portugal. As nossas performances são feitas anualmente com feedback de colegas de trabalho e caso não haja nada de negativo a apontar não há nada que impeça a progressão para o próximo nivel. A idade não é um impedimento em ponto algum. Tenha 28 anos ou 50 anos as progressões são feitas com base na experiência e desenvolvimento da pessoa e não da idade. Em Portugal, sei de casos de pessoas que só não foram admitidas num cargo superior devido à idade, o que para mim pessoalmente não faz sentido. A relação entre vida pessoal e profissional é muito balançada – por exemplo, há espaço para ir a consultas a meio do horário de trabalho se assim for necessário, porque o trabalho não vem em primeiro lugar mas sim a saúde e o bem estar da pessoa. A saúde mental no trabalho é muito importante, tanto que há uma semana inteira dedicada para a sensibilização da mesma. Mais importante de tudo, o facto confiança por parte dos superiores – os chefes na maior parte das vezes não são chefes mas sim lideres. Promovem a progressão da equipa, confiam a 100% quando o colaborador demonstra os valores certos, e dão todo o apoio que o colaborador precisar tanto na vida profissional como pessoal por vezes. Óbvio que isto é apenas a minha experiência no sitio onde me encontro a trabalhar, portanto não posso generalizar, em todos os sítios haverão pontos positivos e negativos mas esta é apenas a minha experiência até ao momento.
- Aspectos mais negativos quanto à forma como o trabalho é vivido: O ritmo de trabalho é muito rápido e como há muita oferta as pessoas acabam por trocar de emprego muito rapidamente. A média é ficar dois anos numa empresa e depois acabam por mudar, ora porque conseguem mais dinheiro noutro sitio ora porque a posição é superior por exemplo. Isto faz com que seja difícil criar relações mais próximas e por isso, pode-se tornar um pouco “solitário”. Não é o meu caso, mas sei que de momento muitas empresas estão a tentar regressar a padrões antigos em que quase não aceitam o trabalho híbrido ou remoto. No meu ver, isto é bastante prejudicial não só para o trabalhador mas também para a empresa pois as pessoas não vão ter a mesma motivação que teria se tivessem possibilidade de escolha.
- O que mais lhe surpreendeu ou outra curiosidade que deseje partilhar? Acho que foi o choque cultural. Venho de um sitio onde, como com tantos outros, o incentivo sempre foi “matar-me a trabalhar” para demonstrar o meu valor. Sair mais cedo mesmo sem nada para fazer era pecado; ter uma enxaqueca que me impossibilita-se de trabalhar pecado era… e o que me surpreendeu foi a diferença brutal nesse aspecto. Um dia tive uma enxaqueca brutal por exemplo e estava sentada a secretária a fazer tudo para me aguentar, e por isso não disse nada. Assim que o meu director percebeu que não estava bem, mandou-me recambiada para casa e que não voltasse no dia a seguir se não me sentisse melhor. Isto foi a primeira vez que me tinha acontecido algo do gênero, sem que me tivesse sentido culpada por estar a sair mais cedo, por não estar bem. Nós portugueses, somos muito bem vistos no exterior, porque somos hard workers, fazemos tudo e o que não sabemos fazer procuramos aprender, eles dão muito muito valor a isso. Mas isso não quer dizer que tenhamos que nos afogar em trabalho todos os dias, e compreender isso e aceitar que a realidade era diferente e que é ok ter vida própria foi algo que nos primeiros tempos me custou um pouco a assimilar mas que hoje compreendo a 200%. Em Portugal, também acontece claro, as pessoas não são insensíveis mas pelo menos sentia que sempre que isso me acontecia eu tinha sempre um sentimento de culpa associado, quase como se estivesse a cometer uma falta brutal para com o empregador.
- Que conselhos daria a outros profissionais que estão a considerar mudar-se e trabalhar em Londres? Para tentarem e não desistirem caso a primeira tentativa não corra como planeado. As melhores coisas levam o seu tempo! Se é algo que querem mesmo que experienciem, caso não resulte podem sempre voltar. Mas o mais importante é irem com mente aberta, e estarem abertos a conhecer a cultura e costumes do país.
- Gostaria de voltar ao seu país? Sim, sem dúvida. Aliás, é algo que pretendo fazer num futuro próximo. Mas a experiência e os valores que obtive lá fora será sempre uma aprendizagem adquirida da qual nunca vou abdicar.