Cultura são comportamentos, tradições e conhecimentos de um determinado grupo social, incluindo língua, comidas típicas, religiões, músicas locais, artes, vestimenta, entre outros aspectos. São conceitos formados com o passar do tempo, firmando-se naquele grupo social como sua forma de ser e estar e que acabam criando uma identidade cultural.
Liderança multicultural é sempre um desafio, ainda mais em um ambiente atual volátil com grandes mudanças. Já não sabemos mais se estamos tratando de VUCA, BANI ou alguma outra sigla que vai aparecer (ou até mesmo já apareceu), trazendo tensões no ambiente das organizações.
Existem aspectos culturais de fácil percepção, mas há outros que estão em camadas menos visíveis e são esses os pontos mais sensíveis na gestão multicultural. A imagem do “iceberg cultural” nos ajuda nessa compreensão.

Lidar com a camada submersa da cultura exige um mergulho mais profundo do líder sobre esses temas, buscando um entendimento mínimo sobre cada um deles, de forma que possa estar confortável em sua posição de comando, sem comprometer sua autoridade.
Pois bem, na prática, você pode se deparar com a situação de ter que liderar uma equipe multicultural em três situações (cada uma com seus desafios e nuances):
3 Desafios de uma liderança em ambientes multiculturais
1) Uma equipe local que recebe em seu time elementos vindos de outras operações (regiões ou mesmo países)
O ponto fundamental nesse cenário será promover a inserção dos elementos de fora de forma tranquila e coerente, mas levando a esses novos membros algum conhecimento sobre a cultura daquele lugar, o que lhes permitirá uma rápida adaptação;
2) Uma equipe composta por times situados em localidades distintas (regiões, países, continentes ou mesmo global).
Aqui a questão é mais complexa e quanto maior for a abrangência da responsabilidade, mais cuidado o líder deverá ter em se inteirar de aspectos culturais de cada localidade, de forma a promover uma liderança equitativa que seja aceita por todos. Aspectos como respeito por crenças religiosas, horários de trabalho, são essenciais na criação dessa unicidade na equipe;
3) Uma missão no exterior, para servir como expatriado, e sendo líder de uma equipe no estrangeiro.
Aqui a missão é mais complexa, pois o líder será minoria na equipe (e se encontrará no ambiente dos liderados), e terá uma grande tarefa na sua adaptação à cultura local, como forma de se integrar à equipe e construir o engajamento necessário com o time.
Qualquer que seja a situação, o líder tem um papel fundamental no engajamento da equipe, levando todos os membros a trabalhar em coesão e unicidade de objetivos, criando uma “cultura” permeável e aplicável de forma transversal para todo o time.
Trabalhar com multiculturalidade requer ótima comunicação, grande adaptabilidade e resiliência, algumas das habilidades pessoais consideradas mais relevantes para os lideres atuais. Implica também em conhecer aspectos locais que podem impactar na rotina de atividades da equipe.
Por exemplo, em alguns países muçulmanos o calendário de trabalho funciona do domingo a quinta, sendo o fim de semana considerado na sexta-feira (dia sagrado) e sábado, o que difere da maioria dos países que adotam o calendário de trabalho de segunda a sexta-feira. Isso pode parecer uma questão simples, mas que precisa ser bem gerida, evitando-se, por exemplo, a marcação de reuniões de sexta-feira, para não ferir um aspecto cultural de relevância, causando rupturas no time.
Liderança em ambientes multiculturais: Conselhos para ter sucesso
No mundo real, não existe uma fórmula mágica de sucesso, mas uma interação e criação coletiva de regras e entendimentos comuns que sejam aceitos por todos os membros da equipe pode resultar positivamente.
Entretanto, alguns conselhos baseados na minha própria experiência, deixo listados:
- Se a sua organização tem operações em diversas regiões (dentro ou fora do mesmo país), ofereça aos colaboradores que tem funções corporativas ou mais abrangentes um treinamento acerca de aspectos culturais relevantes que envolvem os grupos sociais envolvidos;
- Pratique a escuta ativa (diálogo aberto e constante) com os membros das equipes, buscando entender e captar eventuais crises, partindo para soluções rápidas e imediatas;
- Exija dos líderes que respeitem aspectos relacionados aos horários de trabalho de cada localidade. Equipes que trabalham juntas, mas situadas com fusos-horários de seis ou mais horas (ou mesmo com dias de trabalho diferenciados), podem ter dificuldades com reuniões etc;
- Tome cuidado com a forma de se expressar. Algumas culturas são mais permissivas e outras mais tradicionais e por vezes alguma forma de linguagem ou de expressão corporal pode não ser bem compreendida e até ofensiva;
- Procure entender aspectos políticos e sócio-econômicos das localidades com as quais trabalha. Por vezes alguns países enfrentam problemas mais severos que outros, e esse conhecimento evita posicionamentos equivocados e por vezes até ofensivos;
- Jamais tente impor a sua cultura para outras localidades. E aqui, principalmente se você é o líder, ofereça uma via de mão-dupla, com a aceitação mútua das culturas de todos os lados.
- Para casos de M&A, tenha sempre em mente os aspectos de ansiedade que uma equipe pode ter em situações de empresas adquiridas etc. A empatia aproxima os times e traz um engajamento poderoso;
Concluindo, aproveite a diversidade cultural da sua equipe, e extraia o máximo de resultados desse conjunto fantástico de habilidades que estão à sua disposição. Não tenha medo dessa situação. Apenas tenha alguns cuidados, seja transparente e próximo ao time e com certeza os resultados obtidos serão expressivos.