A Grande Conferência Liderança Feminina realiza este ano a 19 de outubro, em Lisboa.”Inspiring Women” é o tema da 10ª edição deste evento organizado pela Executiva. Entrevistámos Maria Serina, diretora-adjunta e co-fundadora da Executiva (juntamente com Isabel Canha), que partilhou connosco mais informação sobre o evento e com quem aproveitamos também para falar sobre liderança feminina.
O que é que os participantes podem esperar desta 10º edição?
Os participantes podem esperar um painel de oradores de grande qualidade, que estará em palco a partilhar abertamente a sua experiência de liderança. Além das executivas e executivos portugueses, vamos contar com duas oradoras internacionais — Christina Bengtsson, ex-campeã mundial de tiro de precisão, que vai falar sobre a importância do foco, e Nuria Chinchilla, professora do IESE, que fará uma apresentação sobre o poder a influência da liderança feminina.
Ao longo do dia teremos vários painéis, talks e duos que abordarão vários temas:
- Os líderes como agentes de transformação
- Mulheres nos boards
- Superar a síndrome do impostor
- Carreira internacional
- A dupla liderança no empreendedorismo
- O desafio da conciliação
- Let’s talk about money
- A sobrevivência dos mais belos
- Entre outros.
Dez edições depois, em que é que este evento está diferente?
Este ano, para marcar a 10.ª edição da conferência, vamos ter, na véspera, um jantar e uma palestra exclusivos (reservado para patrocinadores platinum) com a oradora Christina Bengtsson, que no dia seguinte, abrirá a conferência com uma talk diferente.
Mas desde a primeira edição desta conferência, em novembro de 2016, são várias as inovações que temos introduzido. A primeira foi a ausência de moderadores nos painéis, fazendo destes momentos conversas fluidas e autênticas entre as participantes. Para tornar o evento mais dinâmico, os nossos programas incluem mesas redondas, duos e talks, além de momentos de animação. Em 2019 levámos a GCLF para o Porto — já realizámos três edições no Porto e seis em Lisboa — e, desde o ano passado, passámos a edição de Lisboa a dia inteiro, pois há cada vez mais oradoras interessantes para trazer a palco e temas para discutir. Vamos continuar a inovar, mas acima de tudo o nosso principal é manter a qualidade da conferência.
Faz ainda sentido falar numa “liderança feminina”? Se sim, o que é que a caracteriza?
Homens e mulheres são diferentes e por isso é natural que existam diferenças no estilo de liderança. É claro que há sempre exceções, mas de uma maneira geral, diz-se que os homens são mais focados nos números e nos resultados e menos nas pessoas, enquanto as mulheres se preocupam mais com o impacto das decisões de negócio sobre as pessoas e procuram envolver mais as equipas para atingir os resultados.
No estudo “Women Matter Iberia” da consultora McKinsey nas empresas com liderança feminina, a quota de satisfação dos funcionários é mais elevada, atingindo os 79%. Quando há uma menor presença de mulheres na liderança, a satisfação desce para os 65%. Segundo a consultora, as principais razões radicam no facto de a liderança feminina se preocupar mais com o bem-estar das suas equipas, a integração e a concessão de mais flexibilidade.
Décadas de estudos demonstram que as mulheres líderes ajudam a aumentar a produtividade, reforçam a colaboração, inspiram a dedicação organizacional e melhoram a equidade, são conclusões divulgadas pela American Psychological Association.
Como veem o panorama da liderança no feminino em Portugal?
Em Portugal, as estatísticas mostram evolução nos números da liderança feminina, ainda que num ritmo mais lento do que desejaríamos e do que seria importante para a sociedade.
Portugal ocupa a 29.ª posição no Índice Global de Desigualdade de Género à escala mundial. As mulheres são metade da força de trabalho, mas representam apenas 31% dos lugares nos conselhos de administração e 6% dos CEO, diz o estudo “Women Matter Iberia” da consultora McKinsey. feito no segundo semestre de 2022. Além disso, a disparidade salarial é de 10,1% entre os dois sexos, sendo ainda maior em cargos de liderança.
As quotas, quer para empresas públicas, quer para as empresas cotadas, têm ajudado a reduzir o fosso entre homens e mulheres na liderança, e procuram incentivar as empresas que não estão abrangidas por elas a seguirem o exemplo.
O sucessivo alargamento das licenças parentais para os homens é uma medida que também acabará por ajudar a que mais mulheres caminhem para posições de liderança, pois o estigma da maternidade deixa de estar exclusivamente focado sobre elas, podendo contribuir para uma maior igualdade de oportunidades no local de trabalho. Se esta maior proximidade dos pais com os filhos logo nos seus primeiros meses de vida contribuir para um maior envolvimento dos homens nos cuidados com os filhos e nas tarefas domésticas, isso irá ajudar a que a igualdade de género se torne uma realidade num espaço de tempo mais curto do que os mais de 100 anos que várias entidades internacionais apontam — o Relatório Global do Fórum Económico Mundial, que compara a evolução da desigualdade de género em 146 países, indica que se as coisas continuarem a evoluir ao ritmo atual, serão necessários pelo menos 131 anos até que haja igualdade salarial para as mulheres no mundo empresarial.
E no resto do mundo?
A liderança feminina continua a avançar a várias velocidades no mundo, pois há ainda muitos países com situações mais prementes para resolver sobre a situação das mulheres antes da liderança feminina ser de facto a prioridade. Mas nos Estados Unidos, pela primeira vez em 69 anos de história da lista anual da Fortune 500, as mulheres lideram mais de 10% dos negócios das maiores empresas de capital aberto — 52 empresas são comandadas por mulheres, um recorde histórico que contratas com as 44 do ano passado.
Nos países de língua portuguesa, o Brasil é aquele que vamos acompanhando com mais regularidade e em que se nota que há cada vez mais mulheres à frente de empresas — não apenas das empresas que criam, mas cada vez mais a liderar grandes multinacionais — e que são mulheres que têm a noção que são role models para muitas outras e por isso falam abertamente sobre os desafios que enfrentam e procuram de várias formas inspirar e empoderar outras mulheres a seguirem as suas ambições.
Os homens são bem-vindos? O que podem eles aprender nesta conferência?
Os homens são sempre bem-vindos à Grande Conferência Liderança Feminina e temos cada vez mais. As empresas incluem cada vez mais homens nas comitivas de colaboradores que enviam à conferência e é notório o seu interesse durante o evento.
Não entendemos a igualdade de género como uma luta entre homens e mulheres, mas sim como um objetivo que interessa às mulheres, aos homens, às crianças, a toda a sociedade e para o qual é fundamental contar com o envolvimento dos homens. Despertá-los para as dificuldades acrescidas que as mulheres ainda enfrentam para fazer carreira é fundamental, pois muitos deles, não passando por essas dificuldades, nem sequer as identificam. Mas, depois de tomarem conhecimento delas, podem alterar comportamentos que ajudem a eliminá-las, beneficiando todos. Muitos homens, por exemplo, não têm a noção de que as mulheres não falam nas reuniões porque têm dificuldade em tomar a palavra num ambiente em que os homens estão em maioria e dominam a conversa. Depois de tomarem conhecimento desta realidade, um gesto tão simples como convidar as colegas a tomar a palavra nas reuniões é suficiente para lhes dar voz e para que todos beneficiem de uma maior diversidade de pontos de vista.