Carlos Nhamahango, CEO do Banco Letshego em Moçambique, é o convidado das Conversas com o CEO da Talent Magazine.
1. Pode começar por nos falar do início do seu percurso académico e profissional?
Chamo-me Carlos Jorge Nhamahango e sou natural de Maputo. Contudo passei a maior parte do meu tempo a seguir o percurso profissional do meu pai pelo país. Residi em Maputo, Inhambane e Zambézia nas décadas 80 e 90, antes dos meus pais terem voltado a Inhambane definitivamente.
Em Inhambane, fiz o ensino primário e toda Escola Comercial, no curso de Contabilidade até 1995. Na Zambézia, fiz a outra parte do ensino primário e secundário até 1992.
Mais tarde, para continuar os meus estudos e havendo apenas o nível médio de Contabilidade nas três maiores cidades de Moçambique, optei pelo Instituto Comercial de Maputo onde me graduei como Técnico Contabilista, em 1999.
Nessa altura, entrei imediatamente no mercado de emprego, como Monitor do Curso Intensivo de Contabilidade. Como não tinha condições financeiras para continuar os estudos e abraçar um emprego formal, foi a solução na altura!
Carlos Nhamahango
Em 2001, consigo o meu emprego a tempo indeterminado no antigo Novo Banco – depois Banco ProCredit, onde foram 11 anos bem passados. Foi uma grande escola para mim. Entrei como assistente de contabilidade e acumulava outras tarefas como tesoureiro, gestor de reporting, gestor de risco e fazia também controlling, tarefas essas que iam surgindo com rápido crescimento do Banco. Era um “faz tudo”, o que me valeu, em 2005, a responsabilidade de Director Financeiro, posição que ocupei até 2009.
Em finais de 2009 abracei a área Comercial como Gerente Regional Sul e depois fui viver na cidade da Beira, como Gerente Regional Centro e onde também acumulei a de Gerente Regional Norte mais tarde, supervisionando mais de 100 colaboradores e 7 balcões.
Com a reestruturação do banco em 2011, acabei por voltar a Maputo ocupando a posição de Gerente de Clientes Particulares e Serviços Bancários, posição que só servi por 4 meses. Depois, juntei-me ao Banco Letshego, em Outubro de 2011, como Diretor Financeiro.
Formei-me depois pela Universidade A Politécnica, em Gestão de Empresas e como Banker pela ProCredit Academy em Frankfurt Alemanha, além de vários outros cursos profissionais de curta duração.
2. Como foi a oportunidade de liderar o Banco Letshego?
Surge em Outubro de 2011, quando um colega me disse que existia uma vaga de Director Financeiro na instituição. Depois de um longo escrutínio e testes de aptidão, juntei-me como colaborador número 45. Continuei nessa posição por 7 anos e várias transformações ocorreram – tanto no negócio, como na estrutura de gestão.
Em 2018, tive o privilégio de ter sido apontado à posição de CEO. Foi um momento marcante, um misto de emoções e de medo, mas já lá vão 4 anos com excelentes resultados financeiros, superando cada ano o que me orgulha a mim e aos meus super-colaboradores.
3. Qual é o diferencial que o Letshego traz em termos de serviços e de proposta de valor aos clientes?
O nosso lema é “Juntos Melhoramos Vidas” e, usando a metodologia “Hub and Spokes, chegámos a distritos onde não existiam sequer um balcão bancário! Atualmente, 66% dos nossos clientes estão nos distritos, são enfermeiros, polícias, militares, professores e outros funcionários que precisam de capital para criar outros negócios e melhorar a sua renda mensal. Alguns na agricultura, outros na construção, entre outros planos de investimentos.
Queremos estar mais perto dos clientes e apoiar as suas iniciativas e bancarizar os moçambicanos através da plataforma de agenciamento bancário. Queremos que o cliente tenha acesso aos serviços financeiros em qualquer lugar, a qualquer momento e de uma forma conveniente. E com um menor custo de transação! Hipoteticamente, o que estou a dizer é que aquele cliente no distrito, mesmo sem sair de lá, consegue ter um crédito, acesso a uma conta bancária, que consiga poupar, pagar as suas despesas e facturas usando o telemóvel ou um agente.
4. Quais foram os maiores desafios que o negócio enfrentou desde o início da pandemia?
Queríamos crescer e nos sectores onde queríamos apostar vimos enormes desafios. A saber: empresas a fecharem ou redimensionar os seus colaboradores, as escolas privadas já não podiam receber alunos, …
Enfim, foi um momento misto, porque o risco que prevíamos era do Estado perder a sua capacidade de continuar a pagar salários. Porém, pelo contrário, assistimos a uma economia estável do ponto de vista de inflação, estabilidade cambial e de preços, pelo que o desafio se transformou em oportunidade.
Carlos Nhamahango, CEO do Banco Letshego
Muitos clientes usaram o período em que empresas concediam trabalho remoto para aproveitar na construção ou no desenvolvimento dos seus negócios.
5. Como CEO, de que forma tem contribuído para o desenvolvimento da sua equipa e para questões de diversidade e inclusão na empresa?
Temos desenvolvido várias competências, através de plataformas como a “Cousera”, que tem mais 4 mil cursos disponíveis e demos oportunidades para todos colaboradores, em todo país, se formarem.
Outra prioridade é que para qualquer contratação, o staff interno deva demonstrar competências. Além disso, também olhamos atenciosamente às questões de gênero e procuramos a paridade até 2025 – hoje temos 40% de mulheres. O banco possui 100% de moçambicanos e, em cada capital provincial, temos também colaboradores nativos.
6. Quais são as principais soluções diferenciadoras que pretendem trazer e qual o impacto esperado?
Temos em vista trazer o DIGITAL MALL – “DM” – talvez o primeiro aplicativo no mercado All in One. O DM virá revolucionar a maneira que os serviços financeiros são oferecidos aos clientes, substituindo o Core Banking como frontend para o backend. Assim, o cliente terá uma interacção mais directa e amigável, podendo escolher o serviço que pretende, seja de empréstimo, poupança, transferências, seguros e até mesmo serviços para além da Banca. Desta forma, podem aceder a uma gama de oportunidades numa só plataforma para consultas médicas, informações sobre agricultura, etc.
7. Quais são as perspectivas do Letshego para o futuro?
Temos várias perspectivas e queremos continuar a afirmar-nos neste mercado como um banco inclusivo e centrado no cliente. Queremos crescer em número de clientes e para tal contamos lançar vários produtos. Nomeadamente: crédito Agricultura, Saúde, cartão de débito, incrementar os agentes bancários e fazer muitas campanhas de Educação Financeira.
Estamos empenhados também em formar e formar mais líderes na instituição e em termos mais sucessores internos.